Nada é mais triste do que um gay de direita, que escolhe passar a vida em um armário de cristal por julgá-lo à prova de lâmpadadas balas. Em uma ânsia por inclusão, compromete tudo. É “discreto e fora do meio”, não em um exercício de liberdade individual, mas em um delírio de aceitação pela invisibilidade. Clama por “direitos humanos para humanos direitos”, e ainda ousa gritar que bichas e viados merecem os castigos que recebem por “não se darem ao respeito”. É isso que significa ser “direito”? Que vergonha…
Apanhou pouco, viado? Porque se nunca apanhou, pelo menos já foi chamado de VIADO, assim bem grande, por “dar pinta” ou para aprender o que NÃO ser. Eu sei que dói, mas reproduzir isso não é a solução. Somos todos viados e sempre seremos, porque a validação heterossexual precisa dessa oposição. A “norma”, a “moral, o “certo” e a “família” precisam de demônios a combater. É por isso que somos transformados em “pedófilos degenerados” e “guerrilheiros comunistas prontos para o golpe”. É preciso instalar medo porque ele cega, emburrece.
Mas o gay de direita não é só burro, é triste. É o oprimido tirando onda de opressor. Chega a dar pena. A esquerda investe na utopia, e trata o governo como o filho malcriado que adora brigar, mas morre de medo quando o pai fica doente. Agora o medo está mais concreto, mas pelo menos isso servirá para que os sonhos fiquem um pouco mais realistas. Aos gays de direita, só resta o medo mesmo.
Esse medo é o da perda de privilégios e do fim do sistema. É o medo de que sejamos vistos como uma coisa só, sob a ótica negativa de um estereótipo explorado à exaustão, baseado em preconceitos machistas e na obsessão pelo patrulhamento sexual. São medos inúteis, já que qualquer privilégio se perdeu com o primeiro homem. Um gay de direita pode ser todo mauricinho, branquinho, limpinho, monogâmico, o caralho: porém, querendo ou não, é a “vergonha da família” por gostar de outro macho. O mimimi é livre.
O movimento gay é underground. Não importa quanto o sistema capitalista nos inclua, antevendo os lucros fabulosos do Pink Money. Seguimos e seguiremos marginais. Casamento, filhos, impostos, igrejas inclusivas… Tudo isso está ao alcance do gay que puder pagar e principalmente se manter “na linha” para gozar dessas benesses, mas o riso de escárnio de quem é “normal” virá sempre de brinde.
Ah, estou sendo intolerante com os pobres rapazes machinhos que só desejam seguir suas vidas sem nunca serem igualados a uma travesti? De forma alguma! Acho lindo que sejamos livres para escolher um caminho. O que me entristece profundamente é que muitos se escondam em “forminhas sociais”, criando máscaras de respeitabilidade para atirar os outros à fogueira. Será possível que milhares de mortes, ataques, xingamentos e dificuldades que sofremos não significam nada? Isso tudo realmente lhes parece justo e merecido porque, sei lá, um garoto resolveu andar de salto ou usar uma calça mais justa?
Está na hora da comunidade LGBT – dentro e fora do armário – abandonar o complexo de inferioridade e se articular politicamente. A obsessão por não parecer gay está nos separando e custando inúmeras vidas. Nenhuma urna vai te chamar de viado, mas muitos candidatos eleitos no último domingo irão. Eles nos usarão como bala de canhão e cortina de fumaça, citando a “destruição da família tradicional”, para esconder crimes e paralisar demandas sérias. Essa é a cara da direita, sem capacidade de empatia, pronta a se colocar acima do bem e do mal, em atitude “cristã” de apontar qual ser humano é melhor ou pior.
Enquanto isso, vamos morrendo…
Nada é mais triste que um gay de Direita, que só serve para dar voz aos seus algozes. Seria lindo se pudéssemos escapar eternamente em compras, boates e aplicativos caça-homem, não fosse a ameaça constante da homofobia. Não dá para correr. Precisamos nos unir e tomar rumo, já que mais uma vez o conservadorismo – que é tendência mundial e não uma exclusividade gay, admito – se fortalece.
A Direita é contra a liberdade e por isso nos despreza. Ser gay é uma oportunidade de ser diferente, de personificar a riqueza da diversidade humana – inclusive suas contradições – e isso é maravilhoso, mas o direito de se odiar é muito deprimente. É válido, claro. Entretanto, é triste, muito triste
Autor: Fabricio Longo
Disponível em: Os entendidos
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