Santana do Livramento é uma bela cidade.
Gosto ainda mais dela por ser a minha cidade. As lembranças de infância dão aos lugares tonalidades especiais.
Guardo de Livramento a imagem de uma cidade cosmopolita, onde se fala português e espanhol, aberta às influência salutares de Porto Alegre, de Montevidéu e até de Buenos Aires. A necessidade, porém, de afirmar uma identidade contra marés e minuanos gelados, nestas décadas tristes de decadência do latifúndio, da pecuária extensiva e da cultura da lã, tem levado parte da cidade a cultuar um tradicionalismo retrógrado, preconceituoso e conservador.
O atentado contra o CTG Sentinela do Planalto, onde deveria se realizar nesta sexta-feira, 13 de setembro, um casamento coletivo, incluindo a união de duas mulheres, mancha a imagem da cidade. Os talibãs santanenses entraram em ação em defesa do atraso, da discriminação, da homofobia e da rejeição ao outro.
A aceitação da homossexualidade não é mais uma questão de tolerância, de generosidade ou de concessão. É um direito à diferença, à singularidade, à inclinação de cada um. O tradicionalismo gaúcho não tem o direito de defender princípios ou valorizar tradições que se oponham à lei a ao direito natural das pessoas. Se casamentos heterossexuais podem acontecer num CTG, por que casamentos homossexuais não poderiam? Boa parte dos credos comportamentais do tradicionalismo gaúcho está sentada nos pelegos do preconceito. É puro machismo.
O Rio Grande do Sul entrou no noticiário da mídia nacional nos últimos dias por razões lamentáveis: racismo e homofobia. A Revolução Farroupilha, homenageada a cada ano, traiu, no massacre de Porongos, os negros que por ela lutaram.
Talvez um dia apareça um historiador para descobrir documentos sobre a homossexualidade nos tempos da guerra dos farrapos. A homossexualidade existe desde sempre e em todos os lugares. Aos poucos, os talibãs gaudérios perderão o campinho que dominam e cercam com o arame farpado do conservadorismo e do tradicionalismo anacrônico. O atentado talibã contra o CTC de Santana do Livramento ficará no história com um dos últimos atos da intolerância disfarçada de preservação de sagrados ideias do passado. O MTG cumpre o papel do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, movimento fundamentalista que tenta impor aos seus contemporâneos valores soterrados pelo tempo e pelas lutas contra a barbárie moralista.
Abaixo a burca gaudéria.
Abaixo a intolerância de bombacha.
Abaixo a Ku Klux Klan dos estádios de futebol.
Por um gauchismo pós-moderno, tolerante, aberto na estética musical e no comportamento, antirracista e anti-homofóbico.
Incêndio atingiu cerca de 40% de CTG que sediaria casamento gay |
Fonte: Correio do povo / Autor : Juremir Machado da Silva
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