A internet e o Facebook são duas ferramentas que casaram muito bem entre si. Leonardo Marion é um dos nossos membros mais produtivos do grupo do face e recentemente ele publicou o texto de Nathalie Vassalo chamado “O
problema do gay” e digo a vocês meus caros leitores o texto é magnifico e eu tive de traze-lo
para dividir com vocês. É um artigo de opinião simples, mas que vai abrir a sua
mente sobre aceitação e tolerância.
O problema do gay
"O
Problema do gay" - começava minha mãe, "é a necessidade que ele
tem de ser aplaudido". Estávamos no nosso natal-de-nós-duas do
ano passado e conversávamos sobre tolerância. Bom, essa é a minha versão - na
de minha mãe, conversávamos sobre essa história de "gay querer demais".
Este artigo é
dedicado pra quem diz aceitar e respeitar homossexualidade e ainda se contorce
ao enxergar um beijo gay; pra quem liga pra perguntar "mas é mesmo necessário
fazer propaganda do relacionamento homossexual no Facebook?";
pro famoso e absurdo "não
tenho problema com gay, mas precisa beijar na rua?!"; pros que
insistem em se referir a namorados e namoradas de casais homossexuais como"amigo" ou "amiga".
E também pro pessoal gay que senta e assiste isso tudo sem dizer nada,
permitindo e alimentando tal significante limitação social. Isso é o pouco do
que tenho a dizer sobre essa coisa de "eu
aceito, mas agora esconde".
Tenho certeza
que a maioria dos gays tem histórias pra contar quando o assunto é aceitação.
Digo, como brincadeira, que não saí do armário - mas chutei a porta e saí
dançando (ao som de Cássia Eller e Ana Carolina). Depois que o choque passou, a
família foi, pouco a pouco, me presenteando com discursos de "eu aceito" - suas
atitudes, porém, expressavam o oposto. A irmã de meu pai, por exemplo, me
escreveu logo depois que tornei público meu relacionamento em mídia social. Com
o título"ridículo",
a mensagem começava com "eu
aceito e não tenho o menor preconceito" e terminava no "por favor, tire isso da
internet". A imagem de perfil da tia era ela e o marido, os
dois sorridentes. A foto do casal continuava a aparecer na minha lista de
mensagens: "você está me
peitando", ela brigava. E só piorou: me atribuiu tantos
adjetivos - patética, destruidora de família, rebelde - só não chamou de
bonita. O importante da história foi a ironia de cada uma de suas mensagens
começar com uma versão ou outra de "eu
lhe aceito, mas..."
Essa
ignorância semântica é um absurdo que só dá problema. As pessoas falam, com
frequência, "eu aceito" quando o que querem dizer é "eu (quase) tolero". Ser tolerante significa aturar
algo de que você não gosta muito da idéia, algo com que você não concorda ou
que você associa com uns sentimentos negativos. O gay não quer demais - só pede pra
ser aceito. Dizer "eu
aceito e só quero que seja feliz" seguido de um "por que você precisa
fazer propaganda da relação homossexual?" não é aceitação. Fugir para não falar
sobre o namorado do seu filho pra vizinha não é aceitação. Apresentar a
namorada da sua sobrinha como amiga não é aceitação. Aceitação é não ver nada de errado
ali. Aceitar é ter como verdade, como normal, como apropriado; é compreender e
até mesmo receber de braços abertos. Confundir essas duas palavras, além de
ignorante, estraçalha com a paz da gente.
A verdade é
que sempre há um processo - e não é fácil pra ninguém. Resolvi trazer a família
inteira e parafrasear minha prima, quem uma vez escreveu: "o clichê [diz] que 'a
geração dos nossos pais não se preparou para isso'. Mas a verdade é que não
nascemos preparados para nada". É compreensível (e maravilhosamente
consciente) dizer "eu tolero; ainda não aceito, mas me dê mais tempo -
estou me esforçando".
"Eu poderia te responder
com o clichê de que "a geração dos nossos pais não se preparou para
isso". Mas a verdade é que não nascemos preparados para nada. Nobody does.
Ao longo da vida aprendemos com as experiências acumuladas na "rua",
somadas à educação que recebemos em casa. Por educação quero dizer: noção de
família, limites, respeito, espaço, e de como compartilhar e vivenciar o amor.
Não estamos preparados, nos preparamos diariamente. "Como nossos
pais", cantaria Elis Regina."
"...se há preconceito no
mundo - e isso é uma neurose dos pais quando os filhos saem do armário - o pior
preconceito está dentro de casa. Continuo batendo na tecla de que quem [coloca
à margem] o filho(a) gay - são os próprios pais."
- Thatiana Rei
Não
é justo esperar imediata aceitação de ninguém. Pais criam expectativas, além de
terem suas opiniões e conceitos formados - quebrar isso tudo numa frase só pode
machucar. Não só há sempre um processo, mas um processo, talvez, bem difícil -
e ter a ciência de onde estamos é fundamentalmente importante pra conseguir
mover na direção certa e chegar a algum lugar.
Se você tem um
filho - ou uma filha - e parou de perguntar sobre seus planos de casamento ou
filhos uma vez que descobriu sobre sua homossexualidade; se ouvir perguntas como "e sua filha, querida,
está namorando?" lhe
causam extremo desconforto por não querer revelar que sua menina namora
meninas; se você apresenta o namorado ou namorada gay como amigo, se é contra
qualquer exposição gay em mídia social, se prega que orientação sexual é para
ser guardada a sete chaves, esse texto é pra você: Não, você não aceita a
homossexualidade ainda. Mas não tem problema; estamos todos juntos - no fundo
mesmo, tudo que a gente quer é entender e se sentir compreendido, aceitar e ser
aceito. Vamos ser bregas, falar baboseiras de amor, prometer respeito e dar as
mãos ao decorrer do processo. Eu vou tentar o máximo compreender suas
limitações; podemos começar com você perguntando se eu e minha namorada
pretendemos ter filhos. Sim! - lhe respondo. E continuo: o que você acha do
nome Graça pra nossa primeira menina?
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