Duas namoradas se preparam para um beijo. "Existia uma parede no amor", diz o anúncio de página dupla da construtura MaxHaus.
Publicado em agosto nos principais jornais do país, é um raro exemplo de publicidade com temática gay na grande imprensa nacional.
Apesar de o tema já dominar até o enredo das principais novelas da Globo, a publicidade brasileira segue na zona de conforto do armário.
"Em todo lugar do mundo, o público gay é identificado como progressista, moderno", diz André Fischer, criador do portal Mix Brasil e editor da revista "Junior", voltada para o público gay.
"Falta ousadia e coragem por parte de agências e anunciantes no Brasil em associar as marcas a esse público."
"Falta ousadia e coragem por parte de agências e anunciantes no Brasil em associar as marcas a esse público."
Faltam também dados confiáveis sobre o tamanho do mercado e, dizem especialistas, há um temor das empresas de serem boicotadas pelo consumidor conservador.
No caso da campanha da MaxHaus, criada pela agência Talent, o que está em jogo não é atrair o cliente homossexual, mas se posicionar como uma marca moderna. "A campanha é sobre autoexpressão, sobre ser quem você é", diz João Livi, diretor-geral de criação da Talent.
Para Fischer, independentemente do poder de compra, o consumidor LGBT é formador de opinião e, por isso, deveria entrar no plano de mídia dos anunciantes. "Esse é um segmento pequeno, mas que tem poder de influenciar, consome muita marca e compartilha o tempo inteiro."
A falta de anúncios limita o alcance da mídia LGBT, que vive de anúncios segmentados -bares, marca de camisinha ou mesmo de governo, como Ministério da Saúde. O médio ou grande anunciante aparece eventualmente, quando surge alguma campanha que trata de diversidade.
As poucas marcas que ousaram se associar à causa gay na grande imprensa o fizeram em momentos muito específicos, como a Parada Gay.
Há ainda algumas iniciativas que ficam limitadas às redes sociais: em suas páginas no Facebook, Itaú e Banco do Brasil têm dialogado com esse público, oferecendo financiamento imobiliário.
TABUS E MARGARINAS
O tema ainda é cercado de tabu. A Tecnisa, que há dez anos veiculou uma série de anúncios, entre eles um que trazia duas cuecas penduradas num varal, não quis dar entrevistas.
Nem sempre a abordagem é adequada. Uma campanha de 2009 do Doritos -na qual um garoto é ridicularizado pelos amigos ao começar a dançar ao som de "YMCA", espécie de hino gay- gerou protestos e acabou sendo voluntariamente retirada do ar.
Já os conservadores conseguiram retirar das ruas de São Paulo outdoors com a foto de um beijo gay, campanha da fabricante de camisinhas DKT, de 2006.
No Congresso, um artigo do projeto de lei que regulamenta a publicidade infantil quer institucionalizar a "família margarina" como padrão na propaganda brasileira. O artigo foi incluído recentemente pelo relator do projeto, o deputado Salvador Zimbaldi (PDT-SP).
Enquanto isso, nos Estados Unidos anúncios que retratam novos modelos de família estão cada vez mais presentes na mídia de massa. "Nos últimos cinco anos, anúncios com pessoas do mesmo sexo saíram totalmente do armário nos EUA", disse à Folha Bruce H. Joffe, autor de "A Hint of Homosexuality", algo como Homossexualidade Sugestiva.
"Depois de uma fase mais explícita, atualmente os anúncios estão mais sutis e bem-humorados. As pessoas não mais riem da gente, mas com a gente."
O livro mostra que o homoerotismo sempre esteve presente na propaganda, de forma mais ou menos explícita, desde o fim do século 19.
Absolut Hering: Nos anos 80, a epidemia da Aids afugentou muitos anunciantes que haviam saído do armário nos anos 60 e 70. A campanha da vodca Absolut era uma mensagem de apoio à comunidade gay, mas passou despercebida pelo público em geral. Keith Haring era um ativista e um herói para os gays. Foi publicada, entre outras mídias, na revista The Advocate, mais antiga publicação gay.
AdWeek
Anúncio de 1921 da grife masculina Kuppenheimer, que durante a primeira guerra forneceu uniformes para o exército dos EUA. Assinado por J.C Leyendecker, o anúncio tem como modelo, figurado em segundo plano, o namorado do artista, que era muito mais jovem do que ele.
AdWeek
Sugestivo poster de recrutamento da Marinha dos EUA durante a segunda guerra mundial, assinado pelo artista gráfico J.C Leyendecker, que era homossexual. O homoerotismo sugerido passou despercebido pelos militares que aprovaram a campanha
Cerveja Schiltz: aos olhos de hoje, a campanha da cervejaria, veiculada entre 1948 e 1950, parece fazer um paralelo entre a prova de uma nova marca de cerveja e a experimentação de uma nova sexualidade. Curioso, o rapaz prova a cerveja e depois volta para a companhia do amigo. ("Eu estava curioso... Eu provei... Agora eu sei porque Schlitz é a cerveja que fez a fama de Milwaukee")
Anúncio de pijamas da Wilson Wear, de 1945, não é panfletário, mas mostra três homens acordando e se vestindo juntos com bastante naturalidade
Fonte: PARAIBA.COM
A sociedade brasileira e muito preconceituosa essa e a verdade e eu acho muito dificil isso mudar!
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