Recentemente o site G1 postou uma matéria sobre a identificação da transexualidade na primeira infância, segundo a mesma é possível identificar os primeiros sinais entre 4 à 6 anos de idade. Esse estudo e afirmação foi exposto ao mundo por Rafael Cossi autor do livro "Corpo em obra" de 2011 que trata sobre o assunto. Recomendo leitura. Beijão!
A identificação com o sexo oposto e o eventual desejo de uma
pessoa em assumir uma nova identidade de gênero começa geralmente na primeira
infância, entre os 4 e 6 anos de idade, segundo o psicólogo clínico e
psicanalista Rafael Cossi, autor do livro "Corpo em obra", lançado em
2011 após análise de seis biografias de transexuais.
"Nessa idade, ainda não dá para falar se a criança será
um transexual no futuro. Isso porque não se sabe até que ponto ela só está
brincando de se comportar como alguém do outro sexo ou se esse já é um indício
de transexualidade", diz.
Transexual é a pessoa que tem um transtorno mental e de
comportamento sobre sua identidade de gênero, ou seja, nasce biologicamente com
determinado sexo, mas se vê pertencente a outro e cogita fazer tratamentos
hormonais e cirurgia para mudar o corpo físico. Ao contrário do que já
acreditaram psicanalistas no passado, esse não é um caso de psicose, com
alucinações e delírios, defende Cossi.
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Coy Mathis, 6 anos, transexual. |
Brincadeira de criança – ou
não
De acordo com o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtornos de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo, casos como esse sempre existiram, e é importante diferenciar uma simples brincadeira de um comportamento constante.
É muito comum crianças inverterem os papéis, e quando é algo pontual não há
maiores problemas. Mas, se isso se tornar um hábito frequente, diário, o menino
querer mudar de nome, usar presilha e brinco, é indicado que os pais e o filho
passem por uma avaliação profissional antes de qualquer coisa, para ver se essa
é uma questão familiar que a criança está tentando resolver dessa forma ou se
já é um transtorno de gênero", afirma.De acordo com o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtornos de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo, casos como esse sempre existiram, e é importante diferenciar uma simples brincadeira de um comportamento constante.
O médico diz que cada caso precisa de um acompanhamento diferente e individualizado. Se houver realmente um transtorno, ser violento com a criança e censurá-la pode piorar muito a situação.
"A escola também não deve reprimir, mas chamar os pais, explicar o que está acontecendo e aproveitar essa oportunidade para educar também com as diferenças. E não é porque uma criança vê outra fazendo algo que vai querer imitá-la, elas não são macaquinhos", destaca Saadeh.
Na opinião do psicólogo Rafael Cossi, os pais têm que acompanhar o que está acontecendo e não adianta julgar, proibir, punir ou bater.
"Se houvesse uma mentalidade mais aberta e liberal dos pais, a escola aceitaria melhor. O medo do colégio é de como isso repercute para as famílias e a possibilidade de perder alunos de uma hora para a outra", diz.
Segundo Cossi, o preconceito da escola não é apenas contra transexuais e homossexuais, mas contra deficientes, pessoas com síndromes e tudo o que foge ao que é caracterizado "normal" – desde uma falta de uniforme até um cadarço ou cabelo colorido.
"Já os pais costumam dizer que ficam preocupados não tanto com o fato de o filho ser diferente, mas como será a vida dele em sociedade, se os colegas vão tirar sarro, pois existe muita discriminação", afirma.
Cossi cita o filme francês "Tomboy", de 2011, que conta a história da menina Laure, de 10 anos, que muda de cidade e se apresenta aos novos amigos como Mikhael. Até então, o fato de ela se vestir e se comportar como um menino não parecia incomodar a mãe, mas, quando ela fica sabendo que a criança "mudou" de nome, rejeita a situação.
"O filme é muito bom, é um relato, e não faz questão de dar nenhuma pista sobre qual vai ser o futuro da menina. Isso fica em aberto", aponta.
Corpo x gênero
O psiquiatra do HC Alexandre Saadeh explica que há um componente biológico muito importante na questão da identidade de gênero.
"Hoje em dia, sabe-se que existe um cérebro feminino e um masculino, determinado no útero da mãe por hormônios masculinos circulantes. E isso interfere no desenvolvimento cerebral para uma linhagem feminina ou masculina. A cultura e o ambiente também têm importância, mas a determinação é biológica", acredita o médico.
Segundo o psicólogo Rafael Cossi, a ideia de dimorfismo corporal entre homens e mulheres, ou seja, indivíduos da mesma espécie com características físicas (não sexuais) claramente diferentes, só ganhou força com os avanços da biologia no século 19.
"Até então, prevalecia a ideia de isomorfismo, em que o corpo feminino era visto apenas como uma versão do masculino. A vagina era considerada um pênis invertido e o calor era o diferencial dos corpos, pois a temperatura do homem era mais alta que a da mulher", afirma.
O psicólogo cita o livro "Inventando o Sexo – Corpo e gênero dos gregos a Freud", em que o historiador e sexólogo americano Thomas Laqueur estuda como o corpo foi encarado em vários momentos históricos. Cossi também destaca que desejo sexual, gênero e identidade sexual são conceitos bem distintos.
"Uma coisa é o desejo, a orientação, a prática sexual. Outra é o gênero, como a pessoa se vê, seus gostos e comportamentos – algo cultural, social, que varia com o tempo. Essa é a ideia do que um homem ou uma mulher faz, como pensa, como se veste, quais traços o definem. Já a identidade sexual envolve uma noção de inconsciente, inclui o fator psíquico, de como o sexo se constrói na mente e reconhece o que é homem e o que é mulher", esclarece.
É por isso que, segundo o psicólogo, existem transexuais lésbicas ou gays, ou seja, pessoas que se transformam fisicamente com cirurgia e hormônios, mas não necessariamente se atraem pelo sexo oposto.
"Nossa mentalidade ainda é muito heterossexual", ressalta.
Leia a original em : http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/03/transexual-pode-se-descobrir-ja-na-primeira-infancia-dizem-especialistas.html
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